Unicamp e Biofabris fazem 1ª cirurgia de crânio com titânio impresso em 3D do Brasil

Paciente recebeu placas em reconstrução crânio-facial; foi o 1º procedimento do tipo no País

O Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizou no último dia 26 uma cirurgia iné- dita no Brasil. Uma jovem de 24 anos de Araçatuba foi implantada com três placas de titânio, impressas em 3D, no rosto e crânio. O material foi confeccionado no País especialmente para Jéssica Cussioli, e a operação demandou um trabalho prévio de três meses de toda equipe de médicos e pesquisadores do HC. Após uma semana do procedimento, que durou oito horas, a estudante de psicologia já conversa normalmente, sorri e faz brincadeiras. Foram mais de oito meses de luta para conseguir reconstruir completamente seu rosto, desfigurado em um grave acidente de moto.

Jéssica bateu com a face na quina de uma caçamba de entulho ao perder o controle do veículo, em 5 de setembro do ano passado. A pancada destruiu o capacete e atingiu o lado direito do rosto da jovem. A estudante perdeu a visão do olho direito com o traumatismo crânio-facial, que deixou ainda um afundamento de 12 centímetros do lado direito de sua cabeça e testa. O trauma causou também um acidente vascular cerebral e paralisou os movimentos do lado esquerdo de seu corpo. Ela ficou um mês no hospital. No entanto, contra a estatística dada de 2% de chances de sobreviver, Jéssica teve alta com quadro clínico bom. Aos poucos, a estudante foi recuperando suas funções motoras e reaprendeu a andar.

MATERIAL FOI FABRICADO COM IMPRESSORA 3D NO LABORATÓRIO BIOFABRIS

Mas a batalha estava apenas começando. Ela e a mãe, Evanir Cussioli, concentraram seus esforços para conseguir fazer uma cirurgia plástica que recuperasse suas feições. O afundamento também causava dores de cabeça, náuseas e mal-estar em Jéssica, que devem passar com a colocação da prótese.

Reconstrução

No mundo, sete países fazem reconstrução crânio-facial com placas de titânio. O procedimento, entretanto, é delicado e custoso. A importação das placas, como as que foram implantadas em Jéssica, custa em torno R$ 350 mil. No Brasil, são mais comuns próteses de metilmetacrilato, mas elas também são caras: cerca de R$ 130 mil. A luz no fim do túnel surgiu quando Evanir viu pela
internet que a Unicamp começava a fazer as placas de titânio para serem usadas em cirurgias.

350 MIL REAIS – Seria o custo do material usado na cirurgia se ele precisasse ser importado

O desenvolvimento do material pela Biofabris, um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Unicamp, só foi possível graças a uma impressora 3D que confecciona peças de titânio, a única da América Latina. “Esta máquina chegou aqui há uns oito anos. Ela faz muitas peças para indústria e empresas de tecnologia. Há seis anos e meio foi feita a parceria com a Faculdade de Ciências Médicas e HC para a confecção dos biomateriais para cirurgia”, explicou o cirurgião plástico Paulo Kharmandayan. Importada da Alemanha, a máquina é avaliada em R$ 3 milhões.

O contato de Evanir foi direto com a Biofabris, por meio do engenheiro mecânico André Jardini. A mulher mandou um e-mail para o instituto com exames e tomografias de Jéssica. Foi Jardini quem entrou em contato com Kharmandayan e apresentou o caso. “Pela tomografia vi que ela tinha condições físicas de fazer parte desse projeto. Ela tinha a pele da região da cirurgia bem preservada, o que foi muito importante para a operação”, contou. Todo o procedimento foi feito via Sistema Único de Saúde (SUS) e não teve custo à família.

A fabricação das placas levou 20 horas. Juntas, elas formam uma superfície de cerca de 10 centímetros de comprimento. A prótese impressa a partir de tomografias encaixa-se perfeitamente no rosto de Jéssica, resultado de um trabalho conjunto dos médicos com os engenheiros da Biofabris. Cinco cirurgiões participaram da preparação e da operação: quatro plásticos (Kharmandayan,
Davi Calderoni, Herbeti Aguiar e Adriano Mesquita) e um neurocirurgião (Enrico Ghizoni).

“Foi a primeira cirurgia crânio-facial que fizemos com o material. As outras eram apenas de crânio ou face”, contou Kharmandayan. Segundo o médico, o principal avanço da cirurgia se deve ao fato de ela ter sido possível com tecnologia, manufatura e conhecimento nacional. “Já seguimos um protocolo do SUS em relação às placas e nossa intenção é que esse tratamento passe a ser disseminado pelo Brasil.” A ideia é que a Unicamp dê treinamento a outros hospitais de ponta do País para que possam realizar o mesmo procedimento.

Jéssica quer deixar o passado para trás

Jéssica ficará no HC até pelo menos o fim desta semana. A jovem já está em um quarto no hospital e disse não ver a hora de chegar em casa. “Estou me sentindo muito bem. Antes me sentia mal. Quero que tudo acabe logo para poder ir para casa. É duro, venho de um histórico muito longo de hospital e cirurgias”. Jéssica precisará voltar mensalmente ao HC para avaliações e terá acompanhamento de outros médicos em sua cidade natal. Para a mãe, Evanir, a operação é uma vitória. “É uma felicidade e um alívio muito grande. Os médicos disseram que essa reconstrução era importante para ela recuperar todos os movimentos. Disseram que os movimentos melhorariam 70%.” Cursando psicologia em Araçatuba, Jéssica já havia terminado seu trabalho de conclusão quando sofreu o acidente. Faltavam apenas dois meses para se formar. Seu objetivo agora é concluir a faculdade. “Quero me formar, voltar a trabalhar, sair com meus amigos, namorar… Agora é vida normal”, falou a jovem.

Fonte: Jornal Correio Popular, Campinas/SP (03/06/2015)

12 respostas
  1. mara
    mara disse:

    so gostaria de ter um medico a sim na vida do meu filho pois precisa muita dessa placa teve 50 por cento do rosto quebrado sou de hortolanda sp

    Responder
  2. mra
    mra disse:

    gostaria muito de uma cirurgia dessa na vida do meu filho 23 anos foi atropelado por um carro em 2013 teve 50 por cento do osso rosto quebrado precisa muito dessa placa ou a de acrilico

    Responder
  3. Sandra
    Sandra disse:

    Assim como vocês são para Jéssica,vocês são para mim: uma luz no fim do túnel! Preciso urgentemente,
    por favor,de uma prótese total de mandíbula do mesmo tipo que a Jéssica.A minha mandíbula está com-
    prometida por doença degenerativa.As dores são excruciantes,além de limitações funcionais e
    deformidade facial.A cada dia meu quadro clínico piora.Obrigada.

    Responder
    • admin
      admin disse:

      Sandra,

      Por favor, entre em contato através de nosso formulário de contato do site. Responderemos o quanto antes.
      Obrigado.

      Responder
  4. Sulamita
    Sulamita disse:

    Olá, boa noite!
    preciso muito da ajuda de vocês.Tenho um amigo que era policial militar no estado do Rio de Janeiro que em um dia de serviço teve a viatura em que estava atacada por bandidos e ele levou três tiros sendo um na cabeça perdendo massa encefálica do lado direito,ficou em coma por muito tempo e para o milagre da vida hoje ele anda e fala …Mas sabemos que ainda falta muito pra ele voltar a fazer as coisas que fazia antes ,quem sabe até voltar a trabalhar,quem sabe …
    O que seria preciso para ele realizar essa cirurgia,lembrando que ele esta abandonado pelo estado!
    https://www.youtube.com/watch?v=wDGkTR5mon0&oref=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DwDGkTR5mon0&has_verified=1
    esse é o policial que eu clamo por ajuda!
    Obrigada pela atenção!
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    Responder
    • admin
      admin disse:

      Sulamita, bom dia. Por favor, entre em contato através do formulário do site. Não respondemos via postagem. Obrigado!

      Responder
  5. d
    d disse:

    Olá,vi essa matéria sobre a primeira cirurgia impresso em 3d, como faço pra entrar em contato com vcs e a Unicamp,preciso de ajuda que o hospital público não puderam me dar alegria, tenho um probleminha que eu nasci e não saio de casa…Mas no meu caso não séria o implante no crânio…

    Responder
  6. Debora de Jesus
    Debora de Jesus disse:

    Boa noite. Me chamo Débora, meu marido foi atropelado por um trem de carga, e por um milagre foi jogado para fora da linha férrea, teve fraturas múltiplas de bacia e um TCE, que obrigou os médicos a remover a calota craniana, eu não faço a menor idéia do preço dessa prótese, mas gostaria muito de inscreve lo como voluntário nos testes dessa nova forma de confecciona las. Será possível?

    Responder

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