Próteses resgatam dignidade de índios de 10 e 12 anos
Crianças perderam os membros após picadas de cobra; amputação é considera uma vergonha
Dois pequenos índios da aldeia Maronal, do Sudoeste do Amazonas, percorreram 4,4 mil quilômetros em uma viagem de duas semanas a Campinas para terem a chance de uma vida nova. Natalino Doles e Klebson Dioníxio, de 10 e 12 anos, tiveram uma das pernas amputadas por causa de picadas de cobra.
Mas na tarde desta quarta-feira (27), ganharam membros mecânicos de uma clínica de próteses da cidade. Voluntários da associação Expedicionários da Saúde, que tratam da população da tribo, intermediaram a doação.
As crianças foram picadas no final de junho e a aldeia, localizada na região do Vale do Javari, não possuía soro antiofídico para tratamento do ferimento. Somente para chegar ao hospital mais próximo, em Tabatinga (AM), os meninos enfrentaram oito dias de barco, com muita dor e febre.
Quando chegaram ao pronto-socorro, os médicos disseram que não havia alternativa senão amputar os membros. “A região tem um terço do Estado de São Paulo e 5 mil índios vivendo em tribos isoladas da civilização. O acesso é muito difícil e precário”, afirmou o ortopedista Ricardo Affonso Ferreira, que há dez anos cuida de aldeias da etnia Marubo pela Expedicionários da Saúde.
Vergonha
Segundo Ferreira, na cultura indígena, a amputação de algum membro representa “vergonha”, uma vez que a vítima não pode mais caçar, pescar ou se tornar um guerreiro. “É uma forma de devolver a dignidade aos meninos”, disse, em poucas palavras o primo de Natalino, Pedro Domingo Doles, de 28 anos, que não domina o português.
As crianças estão desde setembro na Casa de Apoio à Saúde Indígena, em São Paulo. A equipe do centro demorou alguns dias até encontrar uma instituição para doar as próteses. “Por órgãos de apoio a deficientes demoraria no mínimo três meses. Entramos em contato com o Dr. Ricardo, que acelerou o processo.” Antes de receberem as próteses, os índios tiveram que fazer uma bateria de exames e realizar provas na clínica Fübelle, em Campinas, que fez a doação.
Euforia
As pernas mecânicas foram produzidas em 15 dias com materiais nobres, como resina acrílica, malha de lã de vidro, termoplástico, aço inoxidável e espuma injetável de poliuretano.
“Como eles moram em uma região remota, fizemos uma prótese reforçada em todas as suas estruturas. Os meninos poderão fazer todas as atividades ao ar livre de novo”, explicou o gerente de relacionamento da clínica, Alexandre Lapenna Oliveira. Em dois anos, os garotos voltam a Campinas para substituir as pernas mecânicas.
Os meninos não conseguiram conter a euforia ao verem as próteses prontas. Com um sorriso no rosto, Natalino, que não fala português, disse que agora vai conseguir jogar futebol. Já Klebson disse que vai poder caçar.
“Vou ficar livre de novo”, disse o adolescente, que andava com a ajuda de muletas. As crianças ficam uma semana em Campinas para se adaptarem com as pernas novas, antes de voltarem ao Amazonas.
Fonte: RAC
Vídeo: Globo.com – Jornal Regional
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